A Morte do Dinossauro

segunda-feira, 6 de julho de 2009
(Lamara Disconzi)




Quando acordou, o Dinossauro ainda estava ali, deitado em sua cama, ao seu lado, imóvel.
Ela sabia que já estava morto, mas ainda não estava frio.
Ele ocupava mais da metade de sua cama, tão grande que era.
Acariciou-lhe a cabeça, o pescoço, as costas, até chegar à cauda. Repetiu.
Tinha plena noção que ele não sentia os afagos que estava lhe fazendo. Não importava. Ela sentia. Sabia que este dia iria chegar. Claro que sabia. Aos dez anos não era mais tão ingênua a ponto de acreditar que alguém podia viver para sempre.
Mas, de alguma maneira, ela nunca havia imaginado que o Dinossauro também pudesse morrer. Afinal, ele sempre estivera ao lado dela, desde muito antes de se conhecer por gente.
De repente lhe ocorreu um pensamento. Se o Dinossauro podia morrer, outros também podiam, não? Sua mãe, seu pai, seu irmão... Todos iriam, eventualmente, morrer.
Passou, então, a listar em sua cabeça todos aqueles que iriam morrer. Tantos e tantos que lhe eram tão queridos, um dia iriam desaparecer. Seriam corpos inertes que já não mais responderiam ao seu toque. O Dinossauro era apenas o primeiro.
Uma onda de pavor cruzou sua mente. Perderia todos, não lhe restaria nem um.
Olhou para o Dinossauro novamente.
Ele lhe parecia o mesmo de sempre, mas estava morto.
Nada que fizesse ou que dissesse o traria de volta.
E assim seria com todos.
Um dia estaria sozinha, sem ninguém.
Por um momento, odiou o Dinossauro. Como ousava ser o primeiro a lhe abandonar? Depois de tudo que eles haviam passado juntos... A maneira como ela sempre cuidara dele, brincara com ele. Como ele podia fazer isso com ela?
Mas logo o ódio por ele passou. Sabia que não era sua culpa.
O abraçou forte enquanto murmurava “Desculpa, desculpa, desculpa...”.
Sem perceber, começou a chorar.
Primeiro vieram apenas aquelas primeiras lágrimas, que vêm tão de mansinho que só notamos que estão caindo quando levamos a mão à face e a sentimos molhada.
Tão de repente quanto veio o primeiro choro, veio o segundo. Agora chorava de verdade. A água salgada escorrendo forte, os soluços tão grandes que mal conseguia respirar.
Nesse momento, sua mãe entrou no quarto.
- Querida! O que houve?
E então viu a filha agarrada ao Dinossauro.
- Mari, vem, sai daí... Ele morreu.
E Mariana sentia vontade de gritar “Eu sei, eu sei que ele morreu, mas POR QUÊ?”, porém nada saia de sua boca além do choro descontrolado.
- Amor, AMOR, vem aqui!
Em poucos segundos seu pai também estava ao lado da sua cama.
- Querido, tira ele daí... Não é bom pra ela.
E seu pai tratou de tirar o Dinossauro dali. Não era uma tarefa fácil, sendo o Dinossauro tão pesado e o fato de Mariana ainda estar agarrada a ele.
Finalmente ele conseguiu, deixando Mariana sozinha naquela cama que agora parecia enorme.
A mãe logo sentou-se ao lado da menina e passou a lhe alisar os cabelos, um olhar preocupado em sua face.
O marido, percebendo, lhe disse:
- Tudo bem, querida, tá tudo bem. Semana que vem compramos um cachorrinho novo para a Mari. Só espero que dessa vez ela escolha um nome melhor que “Dinossauro”.

1 comentários:

Charles Kiefer disse...

e-mail: charleskiefer@uol.com.br

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